terça-feira, 22 de setembro de 2009

Possibilidades, Hipóteses (Cap.2)

Mais calma a minha mãe explica-me que nos podia oferecer uma vida melhor se estivéssemos num outro país e faz-me acreditar que a mudança nem sempre é algo mau. Diz-me também que se realmente se der a mudança, não é algo que irá acontecer nos próximos tempos, é apenas uma possibilidade, uma hipótese. Engulo em seco e concordo com ela, afirmando que ela tem todo o meu apoio para fazer o que for preciso, não levantarei qualquer problema, nem serei para ela um entrave ou um obstáculo. Ela levanta-se, sai do meu quarto, e involuntariamente os meus olhos enchem-se de lágrimas, deito a cabeça na almofada agarrando-me aos cobertores, choro em silêncio, um berro por ajuda que nunca será ouvido. Não aguentava mais fazer-me de forte..Não quero que a minha mãe não escolha o melhor rumo para todos nós por minha causa mas saber que vou deixar todos os que me são queridos para trás, deixar a cidade onde cresci, todos os locais a que costumava ir... Repito para mim: é apenas uma possibilidade, uma hipótese, meras possibilidades, meras hipóteses. Não posso baixar os braços, agora que sei que a partida está próxima vou ter que me esforçar para viver o máximo de cada dia que tenho.
Sem qualquer hesitação pego no telemóvel e ligo à Daniela, pergunto-lhe se ela não quer vir até minha casa durante a tarde, alegando que lhe dava umas explicações de inglês para a convencer a vir, ela pondera a ideia durante uns segundos e acaba por me dizer que sim que durante a tarde aparecia cá. Fiquei radiante, com um sorriso de orelha a orelha.
Vou tomar um banho para afastar todas as más energias enquanto aguardo ansiosamente pelo desenrolar da tarde que se segue...

domingo, 20 de setembro de 2009

Nem tudo são flores coloridas num campo verdejante e num dia caloroso. (Cap.1)

Chamo-me Jorge, vivo integrado numa família humilde, constituída pelos meus pais a minha avó e o meu irmão mais velho. Estas são as pessoas com os quais partilho da mesma casa. Bem, a casa e não só, nutro um carinho por todos e cada um deles que sei que é recíproco, no final de contas somos uma família. No entanto, nem sempre tudo são flores coloridas num campo verdejante e num dia caloroso (quero com isto dizer que nem tudo é agradável)... Numa fria manhã de sábado sou acordado com a minha querida mãe a entrar no quarto com uma caneca de leite e umas torradas, ela bem sabe o quanto eu adoro aquilo, então servido à cama, é simplesmente uma óptima maneira de começar o dia. Senta-se no fundo da minha cama a observar-me comer a fazer-me as perguntas mais banais: "Dormiste bem?", "Gostaste do pequeno almoço?, "E a escola vai bem?" às quais eu vou respondendo calmamente enquanto desfruto do bom pequeno-almoço. No meio das triviais perguntas, ela inicia uma frase por "estive a falar com o pai sobre...", eu fico pacificamente à espera da continuação daquela frase contemplando o rosto da minha mãe. Ela baixa a cabeça, não conseguindo olhar directamente nos meus olhos. Algo se passa, levanto-me e sento-me ao seu lado pousando o meu braço sobre o seu ombro: "Mãe, está tudo bem?" ela encosta a cabeça ao meu ombro e derrama uma lágrima. Uma lágrima silenciosa de quem precisa de desabafar mas simplesmente não consegue... Limpo a lágrima da sua face, não consigo ver a minha mãe chorar, é uma pessoa tão dócil e tem um sorriso tão lindo e tão verdadeiro que deveria estar a sorrir constantemente para que todas as pessoas o possam apreciar. Abraço-a, sempre em silêncio esperando o que ela tem para me dizer. A pressão não levava a lado nenhum, além do mais, depois de ela chorar já nem tinha a certeza se queria ou não saber o que ela tinha para me dizer. Depois de uns breves instantes ela levanta a cabeça e começa a falar, as palavras saíam da sua boca tão depressa, entre soluços, e por vezes sem sentido nenhum, que eu tinha de me esforçar para tentar juntar as coisas de uma forma coesa. Parou de falar, poucas coisas entraram no meu pensamento. Palavras como 'mudarmos' e 'país' corriam a minha cabeça mas não se queriam encaixar, boquiaberta pergunto: "Querem sair de Portugal? Mas...porquê?" ...
(to be continued)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Nevoeiro...


Sinto a madrugada a chegar e acordo. Bocejo e levanto-me em direcção à janela, abro-a e desfruto da forma como o ar frio do inverno me acaricia a face. Olho com atenção, consigo ver o nevoeiro lá ao fundo. Aquela camada de nuvens que parece tão perto de nós fascina-me. Volto a deitar-me na cama e deixo-me perder em pensamentos onde me encontro a caminhar em frente, em direcção à densa névoa que se aproxima de mim. Entrei no nevoeiro. Caminho atenta a todos os pormenores, olho para a esquerda e vejo um casal idoso, onde ambos sorriem e a esposa põe cuidadosamente o seu braço entre o braço do marido. "Como o amor perdura!" pensei eu. À minha direita vejo uma criança a correr em direcção a outra que tinha acabado de escorregar, sorrio e penso "que solidária!" vejo ainda pessoas a falarem calmamente entre si, demonstrando-se serenas e pacatas. Leio as entre linhas e pergunto-me se não haverá qualquer mal neste novo mundo, o mundo do Nevoeiro. Continuo a andar em busca de respostas à minha pergunta, e na verdade, tudo o que encontro faz-me acreditar que neste novo mundo todo mal é renunciado. A mentira, falsidade, traição, violência são todos valores aos quais é negada a entrada no mundo do Nevoeiro. Sem parar de andar penso que se a perfeição é inatingível, não sei como descrever este mundo no qual me encontro agora. Imagino a sociedade em que vivo agora a mudar-se para um mundo como aquele. Como eu gostava que este fosse o mundo onde eu vivo...
É assim que o nevoeiro me faz sentir, como se eu estivesse num outro local. Sem dúvida que me fascina.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Será que algum dia...

Pego numa caneta e num papel (estes que por vezes são os nossos melhores amigos) e escrevo, quero escrever o que me vai na alma, desenha-lo exactamente como o sinto, como se fosse uma fotografia tirada no momento. Mas não consigo, algo me impede, a minha alma não é tão transparente como eu gostava que fosse, nem eu própria consigo ler o que se passa dentro de mim. Quero conhecer-me, quero ir além, quero chegar mais longe na conexão com o meu interior, mas não sei como o fazer. Sinto-me como se não soubesse quem sou. Conheço-me fisicamente e sei algumas características do meu interior mas não me conheço completamente. E penso, será que algum dia alguém chega a conhecer-se a si próprio inteiramente ?

Deixo-vos com esta pergunta..

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